Em breve nós vamos "lançar" a HQ Europeia, "Os Filhos d'El Topo", a continuação direta do filme cult de 1970 que Jodorowsky escreveu, atuou e dirigiu. Então pra quem ainda não viu o filme, trazemos uma das várias análises que se encontram na web para entender um pouco desse universo, porem contendo vários spoilers. Mas quem preferir, tem uma versão online diretamente do YouTube em uma ótima qualidade!
Análise:
Faroeste lisérgico, psicodélico, surrealista! “El Topo” um filme de 1970, é à primeira vista um Western, mas muito diferente de qualquer outro Western até aí filmado. Produto da imaginação do autor vanguardista chileno (durante antes radicado em França) Alejandro Jodorowsky, que antes já filmara o também surrealista “Fando y Lis” em 1968, “El Topo” é uma história mística de busca da luz e conhecimento, e das consequências que isso tem sobre um homem. O mote é desde logo dado na apresentação da toupeira, animal que escava para procurar a luz, e com ela fica cega. De certo modo é isso que a história representa.
O filme segue a vida de um homem, chamado El Topo (o próprio Alejandro Jodorowsky), que se inicia como um justiceiro, mas através de uma série de episódios, muitas vezes simbólicos, vai encetar uma viagem de purificação e ascensão, que acabará com o seu próprio sacrifício, após se ter disposto a salvar um conjunto de pessoas.
Subdividido em capítulos de carácter bíblico, “El Topo” mostra uma forte influência religiosa, com temas judaico-cristãos e orientais, na base da sua filosofia. Esta (que tem a ver com as influências do próprio Jodorowsky) passa por um certo messianismo (El Topo surge como salvador no deserto, compara-se a Moisés, e faz milagres de encontrar comida e água), e continua no ascetismo com que ele renasce no interior da caverna (a cabeça rapada e túnica invocam o budismo), e na ascensão que busca no contacto com os mestres, que procuram atingir uma outra forma (o nirvana budista).
A violência e a sexualidade são outros dos temas recorrentes da obra (comuns ao surrealismo em geral), iniciada como uma série de combates à pistola. Em jeito de Western, El Topo desafia e vence todos os adversários, trazendo justiça a um mundo que eles vilipendiam (matando, usando, humilhando, profanando, sodomizando). Tal vale-lhe a admiração de Mara (Mara Lorenzio), que o segue, e a quem se dá. A fé de El Topo (que consegue encontrar comida e água no deserto, ao contrário de Mara), alia-se a imagens de conteúdo sexual, como a nudez e violação de Mara que, ao deixar de ser virgem, já pode também acreditar e assim a conseguir também comida e água (de notar como a rocha de onde brota água tem a forma de um penis do qual jorra semen).
A partir de então El Topo é desafiado a dar o passo seguinte, matar os quatro mestres, os quais nos surgem como ascetas, mestres de sabedoria, que contribuem para a iluminação de El Topo. Este mata-os para que ele próprio progrida e os substitua, mas fá-lo com pesar, no que não é compreendido por Mara, que aos poucos o troca por outra mulher. Por outras palavras, quanto mais El Topo sobe no caminho espiritual, mais Mara procura os prazeres carnais dados pela mulher desconhecida (exemplificados na tortura com chicote, e nos beijos apaixonados).
Tendo atingido a perfeição, ao matar os mestres (e absorver a sua sabedoria), El Topo é abandonado (as feridas que ostenta relembram as chagas de Cristo), e renasce no interior de uma caverna. Note-se aliás como o tema do enterro e renascimento é recorrente. Começamos com o enterro dos objetos do seu filho, que assim se torna um homem. Vemos depois o renascimento do Coronel (David Silva), que acorda como um bebé, e à medida que se veste se torna adulto e poderoso. A passagem de El Topo dá-se após o enterro dos quatro mestres. Temos depois o renascimento simbólico de El Topo, que acorda numa caverna (como um útero da mãe Terra), e na cerimonia de corte do cabelo e barba, vemos um parto simulado, com El Topo saindo de entre as pernas da velha anciã. O próprio filme termina com o nascimento do segundo filho de El Topo e o enterro do protagonista.
O tema da passagem é também evidente, com a educação e o crescimento do filho de El Topo (primeiro criança, depois adulto), o qual precisa matar o pai (analogia freudiana), para finalmente ter uma vida sua. O mesmo fizera El Topo, com os quatro mestres, que precisou matar para progredir como pessoa. O filme termina fechando um ciclo, em que o filho, veste agora as vestes de pistoleiro, cavalgando no deserto com um bebé atrás de si.
Crescimentos, mortes e renascimentos, são constantes rituais de passagem, episódios no caminho para novos estados de existência, o tal caminhar da toupeira em relação ao sol que a cegará.
A sátira de Jodorowsky vai ainda mais longe, mostrando-nos a hipocrisia humana, contida na cobardia e luxúria do Coronel e seus homens (retratados como cães), na violência da aldeia, na repressão de costumes que leva às depravações sexuais de homens e mulheres, e até na religião, aqui professada como um culto de falsos milagres (a roleta russa viciada), numa igreja marcada pelo símbolo do triângulo com um olho dentro, evocativo da maçonaria, e usado nas notas de dólares americanos.
Usando o surrealismo e simbolismo na forma de ligar episódios, e transmitir conceitos, Jodorowsky concebeu um filme excêntrico e complexo. Lembra por um lado um Fellini visualmente mais austero e parco em palavras. Mas o imaginário de Jodorowsky é original pela fotografia no deserto, temática sul-americana e sátira corrosiva. O uso da violência, muitas vezes sangrenta, a crueza das várias passagens, a escolha do grotesco, por exemplo no uso de pessoas deformadas como atores e figurantes, e as mensagens desconcertantes presentes em cada momento, fizeram com que o filme tenha sido fortemente criticado, tendo sido inclusivamente proibido no país de origem.
“El Topo” quando estreou, acabou chamando a atenção de John Lennon, que o defendeu como parte do movimento avant-garde em que ele próprio se inseriu. Com o seu patrocínio o filme teve uma distribuição alargada nos Estado Unidos, tornando-se um filme cult, tendo vindo a influenciar inúmeros artistas. Hoje, é citado como influência de realizadores como David Lynch e Gore Verbinski, e músicos como Bob Dylan, Roger Waters e Peter Gabriel, entre outros artistas e autores.
Fonte: A Janela Encantada
Filme:
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El Topo - BluRay 720p - Legendado
porra, voces colocaram coisa do jodorowiski! eu sigo esse site aki tem anos e esse foi o treco mais foda que voces ja fizeram! Respeito pelo site foi triplicado!
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